Farmácia Água Viva

A saúde íntima é um tema recorrente entre os assuntos femininos, mas muitas vezes esse tema está rodeado de mitos e tabus e pode ser grande motivo de vergonha. 

Além disso, infelizmente, a desinformação trazida pelo uso das redes sociais, dicas sem fundamentação científica e até vendedores de produtos suspeitos trazem inúmeros riscos à saúde feminina.

Da mesma forma que são feitas as rotinas de cuidados com o cabelo e pele, a saúde íntima necessita de uma rotina adequada que vai além da higiene íntima e pode impactar diretamente a vida das mulheres.

Isso porque, a higiene feita de maneira errada, uma alimentação inadequada ou até uma determinada roupa podem impactar negativamente na saúde íntima feminina.

E inicialmente quando pensamos na saúde íntima feminina, talvez, o que vem à mente é a ausência de doenças na região. Mas nem sempre não estar doente é sinônimo de estar realmente saudável, isso porque, pode-se estar em um estado de predisposição à doenças e isso requer total atenção.

 

Saúde íntima feminina e o sistema reprodutor

Antes de pensar na saúde de determinada região, é preciso saber quais órgãos a compõem e qual a função de cada um. E pensando na região íntima, estamos falando do sistema reprodutor, neste caso, o feminino, que é formado pelos seguintes órgãos:

Órgãos internos

  • Ovários- Produzem os gametas femininos, os óvulos e também são responsáveis pela produção de estrogênio e progesterona.
  • Tubas uterinas- Também chamadas de Trompas de Falópio, são responsáveis por levar os óvulos até o útero. É nas trompas que ocorre a fecundação.
  • Útero- É um órgão muscular, lá o embrião se desenvolve até ser um bebê pronto para nascer.
  • Vagina- É um órgão muscular em formato de tubo que liga o útero aos órgãos externos. É na vagina que ocorre a penetração, durante o sexo e por onde o bebê sai.

Órgãos externos (vulva)

  • Monte de Vênus- Também chamada de região púbica, é a região mais elevada da vulva, coberta de pêlos e responsável por amortecer impactos e proteger a vulva de infecções.
  • Lábios maiores e menores- São dobras de pele recobertas por pêlos e são responsáveis por proteger a vagina e a uretra. Os lábios maiores são mais externos e os menores, internos.
  • Clítoris- É um órgão sensorial, composto pela glande, o corpo clitoriano e os pedúnculos. É o órgão responsável pelo orgasmo feminino.
  • Vestíbulo- É a parte da vulva, entre os pequenos lábios e onde estão a entrada da vagina e uretra.

Corrimento e a saúde íntima

A princípio, é importante saber que o corrimento é uma secreção natural da vagina e colo do útero, desde que seja incolor ou branco a levemente amarelado, não tenha cheiro e não tenha um volume tão grande, isso é, que precise trocar a calcinha frequentemente ou seja necessário usar um absorvente.

Portanto, a condição da secreção vaginal está totalmente ligada à saúde íntima feminina. O corrimento é uma secreção responsável por manter a vagina úmida, lubrificando a região e prevenindo infecções. Essa secreção vai mudando ao longo do ciclo menstrual, podendo ser mais abundante, mudar a coloração e aspecto a depender da fase do ciclo.

Porém, é necessário estar atenta à alterações, isso porque se houver mudança no cheiro do corrimento, ou alteração de cor que não se enquadre no que vimos antes, pode ser sinal de alguma doença.

Sinais e sintomas de alerta

Em outras palavras, qualquer alteração na secreção vaginal além das que são vistas todo mês, pode ser um sinal de que a saúde íntima não vai bem. Alguns desses sinais podem ser mau cheiro na região íntima; mudança na textura do corrimento, que pode estar formando grumos como numa coalhada ou ficando amarelo-esverdeado; coceira da vulva; prurido e inchaço; dor na relação sexual; dor no pé da barriga fora do período menstrual; ardência na região íntima; corrimento abundante ou região vaginal seca. 

É importante frisar que, em qualquer um desses sintomas, a mulher deve procurar auxílio médico, de preferência com um ginecologista.

Deve-se evitar soluções caseiras, ou receitas de internet, pois normalmente mascaram ou pioram o problema. O uso de duchas vaginais também não é inadequado, visto que além de introduzir potenciais patógenos à região vaginal, acabam retirando o muco que protege a vagina e a flora bacteriana natural.

E por último, mas não menos importante, um profissional qualificado deve prescrever os cremes vaginais ou qualquer outro medicamento.

O pH e a saúde íntima

Corriqueiramente, principalmente em propagandas de produtos íntimos, vemos o termo pH sendo empregado, mas o que significa isso? O potencial hidrogeniônico, chamado de pH, é a medida que indica o grau de acidez ou alcalinidade de determinada região, medindo em escala que vai de 0 a 14. Quanto maior o pH mais alcalino e quanto menor, mais ácido.

É importante saber que cada parte no corpo tem seu próprio pH e que isso interfere na flora bacteriana normal e em outras particularidades. Claro que na região íntima isso não seria diferente e que qualquer mudança no pH dessa região pode acarretar problemas na saúde íntima.

O pH da região vaginal fica entre 3,8 e 4,5 ou seja, levemente ácido. Portanto, qualquer produto para a região deve ter esse mesmo pH. Isso porque, qualquer alteração no pH da vagina, pode fazer com que a flora natural morra, abrindo espaço para microrganismos patogênicos. É por isso também que não se deve utilizar os sabonetes em barra para higiene íntima, pois normalmente tem pH alcalino.

Como fazer a higiene íntima

Como visto anteriormente, os ginecologistas não recomendam sabonetes em barra para higiene íntima por ter pH inadequado. Normalmente os produtos de higiene que eles recomendam são os sabonetes íntimos com pH levemente ácido. Que preferencialmente, tenham em sua composição ácido lático, que é o mesmo ácido secretado pelas células vaginais.

Também é importante, para a saúde íntima, que a mulher evite produtos como, espermicidas, desodorantes íntimos, papel higiênico e absorventes perfumados, esponjas e buchas. Deve-se evitar também os lubrificantes que não sejam à base de água e hidratantes não adequados para a área íntima.

Além disso, tanto a falta de higiene como o excesso dela, podem acarretar problemas. O ideal é que lave a ‘pepeca’ com sabonete íntimo no máximo duas vezes ao dia e não é necessário lavar a vagina pois ela é limpa naturalmente.

Para manter a saúde íntima, a lavar a ‘pepeca’ corretamente é obrigatório. Deve-se lavar a vulva de forma delicada, com sabonete íntimo e água morna, em movimento de frente para trás. Não esqueça de secar bem a região. Manter os pelos bem aparados também favorece à saúde da região.

Também é importante ressaltar, que quando não for possível lavar a vulva. Seja por conta do local que a mulher está ou escassez de água, pode-se usar lenços umedecidos para fazer a limpeza. Os  lenços para bebês são bem delicados e também existem os lenços próprios para a região íntima.

Outra questão para considerar é o uso de absorventes durante o período menstrual. A mulher deve estar atenta ao período recomendado para trocar o absorvente. Independentemente do tipo de absorvente utilizado, o ideal é que siga as instruções do fabricante quanto à troca do mesmo.

E lembre-se, papel higiênico se usa de frente pra trás, sempre!

Roupas e a saúde íntima

Além do cuidado direto com a região íntima, o cuidado com as roupas é igualmente importante e impacta diretamente na saúde íntima feminina. Desde a escolha de tecidos adequados para calcinhas, para melhorar a ventilação local. O adequado é que a calcinha seja de algodão ou pelo menos o forro seja desse tecido.

Mas não podemos esquecer que, como a vulva é uma região que está frequentemente úmida, é importante manter essa região ventilada. Por isso roupas muito justas ou com tecidos muito grossos são inadequados para serem usados sempre e principalmente no verão.

Calças e shorts jeans ou de tecidos sintéticos, principalmente se forem muito apertados, legging,  todas essas roupas podem afetar a saúde íntima. Visto que diminuem a ventilação da região, favorecendo o desenvolvimento de microrganismos, principalmente de fungos. Por isso dê preferência a saias, vestidos, calças e shorts mais folgados, de preferência de tecidos naturais, como o algodão.

Atenção redobrada no verão, principalmente com as roupas de banho. Evite ao máximo ficar com bíquini ou maiô molhados por muito tempo.

Evidentemente nem toda mulher pode fazer essas escolhas quanto às roupas que vai usar no seu dia-a-dia, principalmente no ambiente de trabalho. Por isso recomenda-se que quando elas estiverem em casa, usem roupas adequadas e se possível, passem um tempo sem calcinha.

Alimentação e a saúde íntima

Ao pensar na alimentação, frequentemente pensamos em  prevenir doenças e evitar o aumento de peso, mas a alimentação também impacta na saúde íntima. Isso porque uma alimentação inadequada pode favorecer a proliferação de microrganismos patogênicos. Uma dieta rica em açúcares, por exemplo, pode favorecer a proliferação de fungos, principalmente a Cândida.

De igual forma, a baixa ingestão de água, pode trazer algumas consequências, visto que os fluidos do corpo dependem da água ingerida. O baixo consumo de água pode deixar a vagina ressecada, ou até diminuir a quantidade de urina.

Por essas razões, manter-se hidratada e ter uma dieta equilibrada é imprescindível. Evite a ingestão de muitos carboidratos, invista em vegetais e frutas. Aumente a quantidade de proteínas ingeridas. Consuma alimentos probióticos, iogurte é um alimento maravilhoso, inclusive para quem tem problemas com candidíase recorrente. E beba bastante água!

Saúde íntima na gravidez e menopausa

Durante a vida da mulher, algumas fases são mais complicadas que outras. Se o ciclo menstrual já traz consigo mudanças que devem ser consideradas até na hora de escolher uma roupa, imagina as mudanças que a gravidez e a menopausa trazem consigo.

Primeiramente é preciso entender que para manter a saúde íntima em dias nessas duas fases, o acompanhamento médico é necessário e o cuidado que as mulheres nessas condições devem tomar devem ser redobrados.

Durante a gravidez, o corpo da mulher sofre muitas alterações, não só estéticas. O fato de uma pessoa estar sendo formada e se desenvolvendo no útero traz consigo inúmeras mudanças hormonais, maior susceptibilidade à doenças virais e metabólicas, como o diabetes gestacional

Ainda pensando nessas mudanças, os fluidos vaginais mudam, a vulva pode ficar inchada e mais escura e os grandes lábios  podem mudar de tamanho. Tudo isso torna o cuidado com a saúde íntima ainda mais importante. A preocupação com a alimentação, vestimentas adequadas, exercícios físicos deve ser sempre maior durante a gestação.

Já durante a menopausa, que é quando a mulher pára de menstruar, normalmente, entre os 45 e 55 anos, outros desafios se iniciam. As mudanças hormonais, agora permanentes, pois os ovários param de produzir estrogênio e progesterona, trazem consigo sintomas como ressecamento vaginal, ondas de calor, queda de cabelo e perda de libido.

Por conta desses sintomas o cuidado com a saúde íntima muda um pouco, muitas vezes a mulher precisa fazer uso de hidratantes vaginais, além dos tratamentos hormonais que ajudam a diminuir os sintomas da menopausa em geral.

Depilação e a saúde íntima

Primeiramente é preciso lembrar que os pelos têm o papel de proteger a pele, principalmente em regiões mais sensíveis, como no caso dos cílios e sobrancelhas, pelos do nariz e também os pelos pubianos. Porém, o tamanho dos pelos podem dificultar a higiene e favorecer o desenvolvimento de microrganismos, principalmente na vulva, impactando na saúde íntima da mulher. 

Pensando nisso, fica óbvio a necessidade de aparar os pelos pubianos, mas a completa remoção deles pode deixar a região íntima mais suscetível a infecções. Por isso é importante considerar o risco x benefício de cada tipo de depilação e quanto vai depilar.

O ideal seria que pelo menos a região da vulva, principalmente os grandes lábios, só tivessem os pelos aparados, a região mais externa poderia ter os pelos totalmente removidos, seja com cera ou lâminas, sem maiores problemas.

Quebrando tabus e mitos

Há vários tabus e mitos que rodeiam a vida das mulheres e elas precisam quebrá-los para conseguir cuidar da sua saúde íntima de forma adequada e sem medos infundados. Alguns desses tabus e mitos passam geração após geração, alguns até tem um fundo de verdade, mas a forma como tentam resolver o problema acaba piorando a situação ou trazendo um peso desnecessário para a vida de muitas mulheres.

Por exemplo, a ideia de que durante a menstruação, a mulher não possa consumir alguns alimentos, como o ovo, pois alterariam o cheiro do sangramento, não fundamentação científica.

Claro que nesse período, que a mulher se sente mais frágil, é importante que ela adote uma dieta equilibrada e inclua  alguns alimentos que auxiliem no seu bem estar e na reposição de nutrientes, como o ferro, que é importante devido a perda sanguínea na menstruação.

Medicamentos inadequados

Um mito bastante comum e perigoso, diga-se de passagem, é o uso de cremes vaginais sem a recomendação médica. Isso vem da ideia de que eles seriam bons para limpar a vagina e até prevenir doenças. Porém os cremes vaginais são medicamentos, existem vários tipos, inclusive, os antibióticos, os antifúngicos, os cicatrizantes, por exemplo.

O uso destes medicamentos de forma inadequada pode desde trazer um desequilíbrio microbiológico na vagina e aí sim provocar uma doença a mascarar um problema pré-existente, dificultando o diagnóstico médico. Por isso lembre-se, só use medicamentos prescritos por um profissional.

Existe um outro mito que se trata da higiene, mas que traz muitos riscos para a saúde íntima feminina, que é o uso de duchas vaginais. Médicos já as recomendaram no passado, mas hoje já se sabe que elas fazem uma lavagem na região vaginal, fazendo com que a flora dessa região seja ‘levada’ nesse processo, o que deixa a região mais suscetível a bactérias e fungos que podem provocar doenças.

Candidíase

Além desses mitos, um outro é a ideia de que toda doença infecciosa no aparelho reprodutor feminino, tenha origem sexual. Mas a candidíase, infecção vaginal muito comum, é uma doença causada por um fungo natural da microbiota vaginal, a Candida albicans, a doença ocorre quando esse fungo se prolifera demais.

Muitas mulheres, inclusive, têm recorrência dessa infecção, causada muitas vezes por não saber cuidar da saúde íntima de forma adequada.

O uso de medicamentos antibióticos, bem como de produtos de higiene inadequados e até mesmo ficar muito tempo com roupas úmidas podem provocar a candidíase. Claro que ela também pode ser transmitida sexualmente, mas isso pode-se evitar pelo uso de preservativo.

Por fim, a principal conclusão que podemos chegar é que os cuidados com a saúde íntima não devem ser um peso na vida da mulher, mas um gesto de autocuidado e amor próprio, lembrando que esses cuidados não são resumidos a coisas que se fazem diretamente coma ‘pepeca’ e também não deve ser motivo de vergonha.

Mas atenção, além do cuidado direto, toda mulher deve periodicamente consultar seu ginecologista, a fim de fazer exames que previnem vários tipos de doenças, como o câncer de colo de útero e as doenças infecciosas.

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